quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Paranóia.

É amanhã, é amanhã...
Assim ele repetia, andando de um lado para o outro, no cubículo que chama de casa.
É amanhã, o que vou fazer? Não estou preparado, poderia ter me preparado, mas não o fiz. E agora?
Plano b, preciso de um plano b. Mas qual é o plano b?
É o plano de qualquer homem sensato.
O suicídio.




Ps.: Essa poesia foi escrita há meses, relutei muito em postá-la. acho ela forte. Mas é assim que as coisas são, fortes.
Resolvi publica-la em homenagem a um senhor que relatou o próprio suicídio de forma sistemática na internet. Ele se chama Martin Manley.
Não quero induzir ninguém a nada.
E deixo aqui as minhas homenagens e os meus pêsames.

É quase isso

No geral, as pessoas são chatas pra caralho.
E entre todas as chatisses do mundo, a única que eu realmente tolero é a minha.
Ninguém diz isso na sua cara, mas você é muito chato!
Só o toleram, por que gostam de você.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Vou fazer um esforço mental para lembrar

Ainda tenho mais umas do Seu Elpídio, escreverei essa semana, assim espero. Para quem não conhece o Seu Elpídio, ele chama todo mundo de moleque, uma figura. E adora beber skol.

Não tenho só histórias dele, conheço outras. Lembrarei, selecionarei e postarei no blog.
As histórias da vida real, são fascinantes e abundantes, todos conhecemos algumas, talvez até vivenciamos.

Seu Elpídio, um homem de fibra.

O moleque, você gosta de histórias mesmo, né?
Vou te contar mais uma, então.
Vem cá, sente comigo na minha mesa.
Olha, essa história não é muito feliz...é a história da minha infância, eu não conto essa história com tristeza, por que estou vivo para conta-la .
Mas vamos lá...

Quando eu era criança, minha mãe não tinha paradeiro certo, ela não tinha casa e eramos muitos irmãos. Por isso, ela nos deixava na casa dos outros, cada irmão com uma família diferente.
Eu era muito maltratado na família que morava. Lá, eu só comia de encher a barriga de três em três dias, que era quando eu ia buscar a lavagem pro porco...
Eu perguntei, com ar de perplexidade: Seu Elpídio, na casa onde o senhor estava, não te davam de comer?
Seu Elpídio respondeu: Até davam, só que era uma refeição por dia, um caldinho de canjiquinha, bem ralinho. Eu comia bem mesmo quando ia pegar a lavagem do porco.
De manhãzinha eu pegava dois baldes e ia até o vizinho pegar os restos da comida da casa. Eles enchiam os baldes e eu ia carregando de volta. Quando chegava em uma estradinha, onde não passava ninguém, eu parava, colocava o balde no chão e metia a minha mão lá no fundo, puxava um pedaço de angu e os legumes que estava no balde, todos já meio roxo e comia, moleque. Comia com muito gosto, era azedinho, até gostava... eu estava com fome, não podia escolher, e tinha que comer rápido para ninguém me ver.
O mais importante era encher a barriga, por que teria que esperar mais três dias, depois daquele.
E aí, moleque, o que está achando da minha história?
Seu Elpídio, não tenho nem palavras para descrever, só de ver o senhor contando essa história, sem tristeza, com um semblante feliz, me deixa sem palavras.
Mas você pensa que acabou? Eu ainda sofri mais naquela casa, moleque...deixa eu volta para a história...
Eu mijava muito na cama, quando era menino.
E os donos da casa não aceitavam, por isso, toda vez que eu molhava a cama eu levava uma surra. E eu molhava a cama todos os dias, e com isso já acordava apanhando de chicote, não entendia muito bem o por que, eu era uma criança, mas eles não queriam saber, me batiam com força, e eu apanhava quieto.
Uma vez, eu vi eles escolhendo na maior naturalidade quem iria me bater no dia seguinte. Fui dormir, rezando para que não molhasse a cama, só que não adiantou, molhei a cama e apanhei da mulher, do dono da casa.
Um dia, minha mãe apareceu, como eu fiquei feliz, moleque! E pensava, é hoje que vou sair desse inferno, passei o dia feliz, com um sorriso no rosto.
Só que na hora de ir embora, minha mãe disse que não poderia me levar ainda, pois não achou casa para morar. E me perguntou se eu estava sendo bem tratado na casa, se comia bem e se apanhava...eu disse que era muito bem tratado naquela casa e que ela não precisava se preocupar.
Moleque, aquilo foi o que mais me doeu. Mentir para a minha mãe e ver ela partindo, me deixando na casa e achando que estava tudo bem.
Se eu falasse a verdade, os donos da casa iriam me matar, tinha certeza.
Ás vezes, ficava pensando e tinha vontade de desistir de tudo, mas eu aguentava, nunca reclamava, tinha esperança que as coisas iriam melhorar. Quando a fome apertava e começava a me sentir fraco, sem forças eu lembrava que faltava pouco tempo para eu ir buscar a lavagem.
Quando chegava o dia de ir buscar a lavagem de porco, eu ficava feliz, animado, pelo menos naquele dia iria apanhar de barriga cheia.
Sabe moleque, eu agradeço por ter tido forças para aguentar aquilo tudo por anos.
É por isso que eu acredito que tem um Deus lá em cima, olhando por nós. Naquela casa, onde eu buscava a lavagem com os restos da comida da casa, morava um tuberculoso. Eu comia a mesma comida do tuberculoso na lavagem, a comida estava quase estragando, já azeda. Pela lógica, era para eu ficar doente, só que nunca fiquei doente, minha saúde era de ferro, nem passar mal eu passava, sobrevivi a tudo isso.
Sobrevivi e estou aqui, vivo para contar a minha história.
Seu Elpídio, o senhor é um guerreiro, me ensinou muito, não posso reclamar de nada, meus problemas são poucos perto do que o senhor enfrentou, muito obrigado, Seu Elpídio!
O moleque, as coisas são assim...o importante é não deixar de ter fé.

Essa é para você, Cabral.

A vida humana para alguns é como se fosse um pedaço de carne podre, só serve para alimentar vermes.
Se vai no hospital se tratar de uma doença, corre o risco de morrer e ficar envolto  em um saco preto na sua maca, como se fosse algo descartável, esperando para ir para o lixo.
Se toma uma dura na calada da noite, e ainda por cima é pobre. Corre o risco de sumir, desaparecer e ser apenas um número nessas estatísticas, que só servem para ilustrar e mostrar o quão na merda estamos atolados.
Se faz manifestação é reprimido violentamente com gás de lacrimogênio, spray de pimenta e porrada. É o famoso tiro, porrada e bomba.
Sinceramente, eu sou mais do que um pedaço de carne.
Eu sou um trabalhador, um estudante, um doente no hospital, um pobre que já levou dura, um brasileiro, mas acima de tudo eu sou uma pessoa que está indignada, cansada de ver tanta coisa errada e ficar inerte.
Qual a imensidão dos meus atos? Não posso mensurar.
Se farei parte dos livros de história? Não sei dizer.
O que posso falar é que cansei.
E que essa luta não é minha e não é sua. Essa luta é nossa, e o que é de todos, não pode ter dono único.